Saúde e Bem-Estar

Páginas abertas para o futuro

Larissa Jedyn
17/06/2007 19:16
“É o zacaréeeeeee, o nome dele é Aligator e no livro dele tem o que eu mais gosto: leão e tigre. Olha aqui o leão na boca do zacaréeee”, conta Bernardo Mascarenhas, de 4 anos, enquanto dá entrevista e “devora” com a bocarra do jacaré de plástico o braço do fotógrafo. A mãe do pequeno leitor, Débora, avisa que o menino e o irmão Tomaz, de 6 anos, costumam ler bastante e têm até autor preferido: “O Ziraldo”, respondem em coro. Dele, já foram devidamente lidos O Joelho Juvenal, Pelegrino e Petrônio, Rolim e um monte de outros títulos que aos poucos eram decodificados com a ajuda da mãe. Esse hábito de leitura se constrói em casa. Ou melhor, começa em casa. “Eu sempre estou com um livro nas mãos e eles vêm me perguntar sobre o que é, qual a história. Tudo bem que depois que eu explico eles acham os meus meio sem graça, não têm figuras e nem nada. Mas costumo pegar uns livros de fotografia, colocá-los no colo e contar as histórias. Leitura é hábito e intimidade com o livro”, conta o pai da dupla, Rodrigo Mascarenhas. “Não é só o que se fala que é transmissão. Exemplo também é.”
Segundo Débora, a literatura é uma forma de inserir os pequenos num universo que não está disponível na mesmice da tevê. “Através dos livros, a criança pode descobrir coisas novas, detalhes diferentes a cada nova leitura. Se uma coisa dá medo, ela vai olhando e buscando possibilidades de dominá-lo”, cita ela, ao lembrar que o filho mais novo, Bernardo, antes todo corajoso, foi se permitindo sentir medo depois de ler a história da Chapeuzinho Amarelo, do Chico Buarque.
Para a psicanalista Cláudia Serathiuk, proprietária da Bisbilhoteca, livraria especializada em títulos infantis, a relação com o livro é individual, depende dos hábitos da família, se pai e mãe contam história, da relação com a literatura sugerida na escola, do que a criança gosta. “A divisão por idades existe, mas, além disso, é preciso identificar o leitor que está ali. Existem livros que acompanham a criança em várias idades: primeiro quando a mãe lia para o bebê, depois com ele mostrando as figurinhas, depois ele já conseguindo identificar as palavras”, conta ela, revelando que no momento os seus filhos Mathias (4) e Henrique Velloso (5) estão relendo todas as obras da biblioteca de casa.
A leitura, no entanto, tem que ser uma coisa gostosa, prazerosa, estimular a curiosidade e a imaginação e não se transformar num enfadonho exercício obrigatório. “Ninguém tem que comprar livro para trabalhar alguma questão da criança. Filho não é robô e leitura tem que ser, nesse momento, brincadeira. Senão, quem é que vai conseguir fazer essa criança ler de novo?”, questiona a psicopedagoga Laura Monte Serrat Barbosa. Por isso, ela avisa que não adianta impor títulos: “Ou você leva a criança para escolher e deixa ela livre para optar pelo que realmente chama a sua atenção, ou dá algumas opções para ela indicar o preferido, ou vá sozinho à loja”, diz.
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