Assistir a um desenho animado vai muito além do entretenimento. “É um aquecimento para o jogo simbólico, que são encenações da vida e para a vida da criança. Ajudam-na a ser, a conviver com seus pares, a expressar seus desejos, a se inserir nesse mundo cheio de contradições. Os desenhos animados não concorrem com as brincadeiras infantis, mas sim, estruturam formas para esse brincar”, destaca a psicóloga Danielle R. Barriquello, assessora psicopedagógica do Colégio Santa Maria.
Além disso, assistir aos desenhos com os filhos pode ser uma ótima oportunidade de aproximação para os pais. “Quando a criança percebe que seu repertório televisivo interessa o mundo adulto, gera-se uma ferramenta de aproximação de mundos, de diálogos: não se liga a tevê para parar de falar, mas se começam muitas conversas a partir do que se assiste”, diz a psicóloga.
Pontos a favor, sem esquecer que a criança não deve passar o dia na frente da tevê. E que o adulto pode aproveitar o que passa na telinha para ajudar a criança a pensar, a questionar valores e até perceber que os sentimentos humanos – dos mais nobres aos nem tanto assim – são universais.
Convidamos três especialistas para analisar três desenhos e um programa infantil aos quais nossos filhos assistem. Não há consenso entre elas e a afirmação de Danielle dá uma pista dos motivos das crianças ao escolher determinado programa: “Não basta indicar, a criança precisa escolher e identificar uma razão maior para assisti-lo e isso depende de fatores sociais, políticos, cognitivos, afetivos, ideológicos, culturais revelados por sua família e sua comunidade.”
Além de Danielle, ouvimos a psicóloga e psicanalista Claudia Serathiuk, proprietária da livraria infanto-juvenil Bisbilhoteca, e a educadora-brinquedista Maria Cristina Pires, coordenadora do Clube da Brincadeira, brinquedoteca da Escola Anjo da Guarda.
Tom & Jerry
Claudia
“Ambos podem ser ruins ou bons, mostrando para a criança que ela pode ser o que é, permite que ela se veja como humana, que uma hora está triste, outra alegre, outra com raiva. A relação do gato e do rato que não se largam parece de irmãos: brigam o tempo todo, mas também brincam. É bacana mostrar para a criança que isso é normal.”
“Ambos podem ser ruins ou bons, mostrando para a criança que ela pode ser o que é, permite que ela se veja como humana, que uma hora está triste, outra alegre, outra com raiva. A relação do gato e do rato que não se largam parece de irmãos: brigam o tempo todo, mas também brincam. É bacana mostrar para a criança que isso é normal.”
Danielle
“Algumas perguntas permanecem ao longo da infância! Por que esse gato e esse rato brigam tanto? Quantas birras, quantas disputas, quantas agressões que em segundos eram revitalizadas e parecia que nada tinha acontecido, nenhum sinal da violência física… Brigam para ver quem é o mais forte, o mais poderoso, quem leva a vantagem maior, quem vai ficar com uma fêmea? Ou apenas mostra um gato que quer pegar um rato? Em um dos episódios Jerry sai de casa e diz adeus ao Tom, mas não consegue viver longe do conflito permanente. Conflito, talvez, com eles mesmos!”
“Algumas perguntas permanecem ao longo da infância! Por que esse gato e esse rato brigam tanto? Quantas birras, quantas disputas, quantas agressões que em segundos eram revitalizadas e parecia que nada tinha acontecido, nenhum sinal da violência física… Brigam para ver quem é o mais forte, o mais poderoso, quem leva a vantagem maior, quem vai ficar com uma fêmea? Ou apenas mostra um gato que quer pegar um rato? Em um dos episódios Jerry sai de casa e diz adeus ao Tom, mas não consegue viver longe do conflito permanente. Conflito, talvez, com eles mesmos!”
Maria Cristina
“Desenho atemporal. A maioria dos pais deve tê-lo assistido quando criança. Com uma seqüência mirabolante de incidentes, gato e rato brigam todo o tempo, se batem e se machucam. Geralmente o gato se dá muito mal, o que provoca pena em quem assiste. O gato é mal educado, não cumpre as regras da casa e planeja seus ataques. O rato, por seu lado, é mais frio ainda na tentativa de salvar a pele, é vingativo e se diverte quando o gato se machuca. Tem pouco a acrescentar em termos educativos, mas as crianças (e muitos adultos) ainda adoram.”
“Desenho atemporal. A maioria dos pais deve tê-lo assistido quando criança. Com uma seqüência mirabolante de incidentes, gato e rato brigam todo o tempo, se batem e se machucam. Geralmente o gato se dá muito mal, o que provoca pena em quem assiste. O gato é mal educado, não cumpre as regras da casa e planeja seus ataques. O rato, por seu lado, é mais frio ainda na tentativa de salvar a pele, é vingativo e se diverte quando o gato se machuca. Tem pouco a acrescentar em termos educativos, mas as crianças (e muitos adultos) ainda adoram.”
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As Meninas Superpoderosas
Claudia
“É ruim. A parte gráfica é muito malfeita, não sei se é intencional. De Florzinha, Docinho e Lindinha elas não têm nada. Tem a história do bem e do mal, mas elas usam a violência para resolver os conflitos: é uma herança da guerra fria, o mundo já não é isso. Não é um desenho inteligente, não sai dessa fórmula repetida de lutar para acabar com o mal. Enfatiza o masculino nas meninas, numa época em que estamos perdidos quanto ao que é próprio do masculino e do feminino.”
“É ruim. A parte gráfica é muito malfeita, não sei se é intencional. De Florzinha, Docinho e Lindinha elas não têm nada. Tem a história do bem e do mal, mas elas usam a violência para resolver os conflitos: é uma herança da guerra fria, o mundo já não é isso. Não é um desenho inteligente, não sai dessa fórmula repetida de lutar para acabar com o mal. Enfatiza o masculino nas meninas, numa época em que estamos perdidos quanto ao que é próprio do masculino e do feminino.”
Danielle
“A força feminina aparece nesse desenho e a ingenuidade e a solidão do professor, sempre presentes, colocam as meninas em desafios constantes, ora para protegê-lo, ora para proteger a cidade onde moram. Cada menina com o seu poder quer conquistar um espaço e um lugar privilegiado no olhar do seu criador. Ao mesmo tempo em que encorajam o professor a encontrar um amor, sempre o desenrolar da história indica que é melhor e mais seguro ficar só com elas. As crianças também vivem relações afetivas que envolvem disputas pelo amor de seus pais, professores, preferência de amigos… Em alguns episódios, passar a ser uma criança humana, ‘sem poderes’, é o que assusta essas garotinhas! Ter por perto um adulto que pergunte sobre essa afirmação desencorajadora de ser gente pode promover um jeito diferente de entender o que é ter superpoderes.”
“A força feminina aparece nesse desenho e a ingenuidade e a solidão do professor, sempre presentes, colocam as meninas em desafios constantes, ora para protegê-lo, ora para proteger a cidade onde moram. Cada menina com o seu poder quer conquistar um espaço e um lugar privilegiado no olhar do seu criador. Ao mesmo tempo em que encorajam o professor a encontrar um amor, sempre o desenrolar da história indica que é melhor e mais seguro ficar só com elas. As crianças também vivem relações afetivas que envolvem disputas pelo amor de seus pais, professores, preferência de amigos… Em alguns episódios, passar a ser uma criança humana, ‘sem poderes’, é o que assusta essas garotinhas! Ter por perto um adulto que pergunte sobre essa afirmação desencorajadora de ser gente pode promover um jeito diferente de entender o que é ter superpoderes.”
Maria Cristina
“Qual o charme desse desenho? Meninas geradas em laboratório, com poderes especiais, mas que, no fundo, são só menininhas. Elas fazem manha, brigam entre si, implicam umas com as outras, freqüentam a escola, têm amigos imaginários… Enfim, tudo que parece muito familiar às histórias das crianças que as assistem. Mas, além disso, são corajosas, lutam com monstros e vilões (todos com aparência de monstros criados pela imaginação de crianças) e vencem! Fazendo um paralelo com nossa vida adulta, também não somos pessoas comuns, com nossos erros e acertos, lutando contra os vilões e monstros que a vida vai nos apresentando? Apenas um comentário contra: um dos inimigos das meninas tem a aparência de um diabo e a voz de um comediante imitando um homossexual. Instiga o preconceito, uma pena!”
“Qual o charme desse desenho? Meninas geradas em laboratório, com poderes especiais, mas que, no fundo, são só menininhas. Elas fazem manha, brigam entre si, implicam umas com as outras, freqüentam a escola, têm amigos imaginários… Enfim, tudo que parece muito familiar às histórias das crianças que as assistem. Mas, além disso, são corajosas, lutam com monstros e vilões (todos com aparência de monstros criados pela imaginação de crianças) e vencem! Fazendo um paralelo com nossa vida adulta, também não somos pessoas comuns, com nossos erros e acertos, lutando contra os vilões e monstros que a vida vai nos apresentando? Apenas um comentário contra: um dos inimigos das meninas tem a aparência de um diabo e a voz de um comediante imitando um homossexual. Instiga o preconceito, uma pena!”
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Hi-5 – Discovery Kids
Claudia
“É bem instrutivo e informativo. Meus filhos, de 4 e 5 anos, adoram, é bem para essa faixa de idade. Dá para confiar no que passa no Discovery, eles têm preocupação educativa, de não-violência.”
“É bem instrutivo e informativo. Meus filhos, de 4 e 5 anos, adoram, é bem para essa faixa de idade. Dá para confiar no que passa no Discovery, eles têm preocupação educativa, de não-violência.”
Danielle
“Baseado numa rotina e em repetições, tudo parece perfeito. Mas a Educação deve estar atenta e investigar as imprecisões, as surpresas, os desafios que o trabalho com as crianças pequenas revela. Quando nos dirigimos ao público infantil deve haver respeito à lógica da criança, experiências que a ajudem em suas construções intelectuais, afetivas e sociais, sem subestimar suas competências. Esse dinamismo educativo não combina com o princípio que coloca a repetição em evidência. Quando a criança só assiste o que é previsível, mais tarde pode ficar esperando o modelo para agir ou achar que há uma resposta certa, única e permanente para resolver os mais diferentes problemas.”
“Baseado numa rotina e em repetições, tudo parece perfeito. Mas a Educação deve estar atenta e investigar as imprecisões, as surpresas, os desafios que o trabalho com as crianças pequenas revela. Quando nos dirigimos ao público infantil deve haver respeito à lógica da criança, experiências que a ajudem em suas construções intelectuais, afetivas e sociais, sem subestimar suas competências. Esse dinamismo educativo não combina com o princípio que coloca a repetição em evidência. Quando a criança só assiste o que é previsível, mais tarde pode ficar esperando o modelo para agir ou achar que há uma resposta certa, única e permanente para resolver os mais diferentes problemas.”
Maria Cristina
“No estilo dos ultrapassados programas da Xuxa: com música, adolescentes dançarinos, crianças na platéia e a previsível avalanche de produtos para serem comercializados com a logo e a roupagem dos apresentadores (cinco jovens, naquela conhecida fórmula de representação das diferentes raças). Se propõe a ser educativo, mas o que realmente oferece é entretenimento comercial.”
“No estilo dos ultrapassados programas da Xuxa: com música, adolescentes dançarinos, crianças na platéia e a previsível avalanche de produtos para serem comercializados com a logo e a roupagem dos apresentadores (cinco jovens, naquela conhecida fórmula de representação das diferentes raças). Se propõe a ser educativo, mas o que realmente oferece é entretenimento comercial.”
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Bob Esponja
Claudia
“Acho chato e bobo. É totalmente nonsense. Mas fala da amizade, de seu valor e importância. Eu não recomendaria para as crianças por gosto pessoal, não por ser ruim.”
“Acho chato e bobo. É totalmente nonsense. Mas fala da amizade, de seu valor e importância. Eu não recomendaria para as crianças por gosto pessoal, não por ser ruim.”
Danielle
“Esse personagem inspira atitudes éticas. Mas o que pode ser ético e solidário nesse desenho associa-se a uma narrativa que coloca o Bob Esponja como ingênuo, inseguro, bobo… São comuns nos episódios diálogos que envolvem xingamentos, falta de paciência, intolerância com o tempo de compreensão do outro. Os conflitos são de simples resolução, mas o perfil dos personagens e a falta de um diálogo conciliador os impedem de resolverem os desafios. O perfil sensível e emotivo do Bob é colocado em evidência, juntamente com diálogos agressivos e que o colocam em desvantagem intelectual, física e social.”
“Esse personagem inspira atitudes éticas. Mas o que pode ser ético e solidário nesse desenho associa-se a uma narrativa que coloca o Bob Esponja como ingênuo, inseguro, bobo… São comuns nos episódios diálogos que envolvem xingamentos, falta de paciência, intolerância com o tempo de compreensão do outro. Os conflitos são de simples resolução, mas o perfil dos personagens e a falta de um diálogo conciliador os impedem de resolverem os desafios. O perfil sensível e emotivo do Bob é colocado em evidência, juntamente com diálogos agressivos e que o colocam em desvantagem intelectual, física e social.”
Maria Cristina
“O que tem este desenho que agrada crianças de idades tão diversas? Tem uma esponja falante e risonha (o que é aquela risada do Bob Esponja?) que, apesar de aparentar ser um adulto, pois mora sozinho e trabalha, tem a ingenuidade e a pureza de uma criança de 4 anos. Bob Esponja tem um grande amigo, Patrick – uma estrela do mar com QI de… estrela do mar –, um patrão explorador, às vezes bom, às vezes mau e um vizinho mal humorado, que está sempre planejando alguma contra a alegria irritante do vizinho amarelo. O desenho é leve, divertido. Bob não é um herói, é só um menino: levado, por vezes irresponsável, mas é terno, fiel aos amigos e, sobretudo, feliz. Entretenimento garantido com mensagens positivas para os nossos filhotes.”
“O que tem este desenho que agrada crianças de idades tão diversas? Tem uma esponja falante e risonha (o que é aquela risada do Bob Esponja?) que, apesar de aparentar ser um adulto, pois mora sozinho e trabalha, tem a ingenuidade e a pureza de uma criança de 4 anos. Bob Esponja tem um grande amigo, Patrick – uma estrela do mar com QI de… estrela do mar –, um patrão explorador, às vezes bom, às vezes mau e um vizinho mal humorado, que está sempre planejando alguma contra a alegria irritante do vizinho amarelo. O desenho é leve, divertido. Bob não é um herói, é só um menino: levado, por vezes irresponsável, mas é terno, fiel aos amigos e, sobretudo, feliz. Entretenimento garantido com mensagens positivas para os nossos filhotes.”
erikab@gazetadopovo.com.br